Chico gostava de caçar rolinhas em dias de folga, principalmente no domingo. Certo dia, mais ou menos quatro horas da tarde de um domingo, ele disse à sua mulher: “Vou aos sítios de João Pires e Mirabeau caçar rolinhas e logo voltarei”. A mulher disse-lhe: “É tarde, Chico, e o céu está bonito para chover; é melhor você não ir”.
Sem escutar a mulher, Chico pegou sua espingarda, munição e bisaco, tomou o rumo da Rua Chã da Bala, no caminho do cemitério velho, e se embrenhou pela caatinga ainda exuberante, com baraúnas, aroeiras, angicos, marmeleiros e arbustos endêmicos do ambiente nordestino. Naquele tempo ainda não existia o açude Manoel Marcionilo, e aquele lugar era praticamente mato e algumas plantações de milho e feijão.
O fato é que, quando Chico entrou no mato, sentiu que seria um bom tempo de caça, pois avistara muitas rolinhas. Preparou sua espingarda e não demorou muito para que seu bisaco ficasse cheio de caça. Animado, esqueceu-se do tempo e da chuva que se anunciava no céu antes dele sair de casa. Já era noite quando a chuva invadiu Taperoá tempestuosamente: relâmpagos e trovões assustadores, ventos fortes e águas torrenciais.
De repente Chico percebeu que o mundo havia escurecido à sua vista, clareado apenas pelos relâmpagos. Logo procurou um abrigo no meio do mato e sentou-se debaixo de uma baraúna, imaginando que só sairia dali quando a chuva passasse. Mesmo assim reparou que não tinha ideia donde estava: se no norte, no sul, leste ou oeste do caminho de casa. Pensativo, quis se preocupar, mas do nada apareceu um homem, dizendo: “Que chuva! Às vezes venho aqui passear, contemplar a natureza, mas estou com medo deste temporal; vou voltar para casa! Você quer vir comigo? Conheço estes caminhos como a palma de minhas mãos e posso lhe ensinar o caminho de sua casa! Além disso, é perigoso ficar debaixo de árvores em tempo de chuva, pois elas atraem raios!”. Chico, que reparou na fisionomia e na roupa de mescla azul do homem durante um relâmpago, animou-se e, num ímpeto, levantou-se e seguiu o desconhecido.
Alguns metros depois de afastar-se da árvore, Chico escutou um grande barulho atrás de si. Surpreso, olhou para trás e viu que a árvore que o abrigara fora atingida por um raio e se partira ao meio. Assustado, ele disse ao homem: “Você salvou a minha vida! Obrigado!” O homem disse-lhe: “Eu conheço muito bem a natureza, pois antigamente eu também vivia caçando rolinhas por aqui, como você faz agora”. Chico quis ampliar a conversa: “Qual é o seu nome? Engraçado, Taperoá é tão pequeno, e eu nunca o vi por aqui!” O homem lhe respondeu: “Meu nome é Joaquim, e moro ali perto da estrada que vai lhe levar para sua casa”.
A conversa se encerrou por aí, e Chico acompanhou o desconhecido, confiante de que logo chegaria em casa, embora a chuva houvesse aumentado. Quando já estavam em frente ao cemitério velho, o desconhecido parou e disse a Chico: “Agora você chegará em casa facilmente, embora a cidade esteja sem luz elétrica; é só seguir em linha reta”. Chico perguntou-lhe: “O senhor não vem comigo? Aqui é esquisito, principalmente de noite”! Ele lhe respondeu: “Não, Chico, pois eu moro aqui há muito tempo!”.
Naquele momento Chico viu, no clarear de um relâmpago, que aquele homem tinha a fisionomia do seu avô, que falecera quando ele era ainda um menino. Viu, ainda, que ele atravessou sem problema a parede do cemitério e sumiu na escuridão. Depois da surpresa, não houve outro jeito para Chico senão correr. E ele correu tanto, guiado pela claridade dos relâmpagos, que deixou cair pelo caminho seu bisaco e sua espingarda. Em casa, quando sua mulher o viu chegar, disse-lhe: “Oxente, você está com cara de quem viu fantasma! Onde estava até agora? Cadê as rolinhas?” Chico, exausto, apenas lhe disse: “Mulher, nunca mais eu vou caçar! Nunca mais eu vou caçar!”.
(Texto: Bete Diniz - Taperoá - PB - Foto: internet)
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